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Cuidado e Aconselhamento Pastoral – Pós-Graduação Lato Sensu dezembro 7, 2008

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A PUCPR está lançando o Curso de Especialização em Cuidado e Aconselhamento Pastoral.

A proposta do curso é instrumentalizar a partir de um referencial ético-cristão, pessoas que pretendem se envolver ou já se encontram envolvidas em tarefas de cuidado e aconselhamento pastoral. Neste sentido, o curso organiza-se de forma a possibilitar a reflexão teórica e prática do cuidado e do aconselhamento a pessoas, famílias, grupos e instituições. Fundamentado na perspectiva da saúde e da inter-religiosidade, o curso capacita profissionais a atuarem de forma diferenciada nas mais diversas áreas do cuidado e do aconselhamento pastoral, como: Pastoral Educacional, Hospitalar, Comunidades Eclesiais e outras instituições voltadas ao cuidado.
Público: Pastores e pastoras, leigos/as, lideranças religiosas, psicólogos/as, assistentes sociais, agentes de pastoral, educadores/as, pessoas envolvidas em ONGs com enfoque na prática do cuidado; professores/as de teologia e demais profissionais da área do cuidado interessados no tema.
O curso funcionará uma vez por mês, aos sábados e domingos – de manhã e à tarde, totalizando 20ha cada módulo.

Período de inscrição: 24 de novembro de 2008 a 25 de março de 2009.

Para maiores informações, tais como: disciplinas, professores e investimento, acesse o site: http://www.pucpr.br/cursos/especializacao/mostra_curso.php?processo=132&curso=1804

Ética, Violência e Indiferença – O lugar do outro na subjetivação contemporânea dezembro 20, 2007

Posted by psicologiadareligiao in ética, cuidado, Religião e Sociedade, subjetivação.
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Questões relacionadas ao tema Ética e Psicologia da Religião envolvem um amplo debate. Podemos abordá-las a partir de diferentes enfoques e acessos, por exemplo, a partir de situações aparentemente simples, vividas em nosso cotidiano, aquelas que parecem dizer respeito só a nós mesmos como indivíduos. Elas podem ser pensadas, também, a partir de outras situações mais amplas, envolvendo o coletivo. O jejum do Frei Luiz Cappio e a sua disposição radical em fazer com que governo e sociedade percebam a extensão das implicações do Projeto de transposição do Rio São Francisco levanta questões de extrema importância diretamente relacionadas ao tema da ética e religião. Várias pessoas opinam e defendem que Igreja e Governo devem ser instâncias separadas e classificam, por conseguinte, como ridículo o jejum do Frei como estratégia de luta por uma sociedade mais justa. Poderiam ser risíveis, se não fossem uma tentativa de banalização do gesto, críticas do tipo: “imagina se a moda de greve de fome pega como forma de impedir o governo de executar os seus projetos?!”

Será mesmo que essa “moda” emplacaria? Por maiores que pudessem ser os esforços dos “criadores de mundo e de desejo”, a moda do “jejum e oração” ou mesmo da “greve de fome” em defesa de um projeto coletivo, parece apontar muito mais para uma estética da vida que implica em escolhas livres, éticas, pensadas e vividas em função do modo de existência que tais escolhas implicam. Nada tem a ver com a estética da moda que se consome em cada nova estação. Uma estética existencial, que se apóia na decisão de lutar até às últimas consequências por um modelo de vida em sociedade diverso do modelo dominante, não parece algo passível de ser produzido como se produz a estética da moda. Quantos outros aderiram ao jejum, mesmo acreditando e apoiando a luta de Cappio? (“É moda, vamos lá…”)

Em meio a isso, provavelmente a maioria que tem ouvido essa “história da greve do frei”, sente algo que apóia o pensamento: “Esse projeto não me diz respeito!”. “Isto é coisa entre o governo e o povo do semi-árido”. “Tenho nada a ver com isto!”. A indiferença grassa entre nós como mecanismo de defesa, fazendo-nos pensar/agir/sentir a partir da ilusão de que vive-se melhor quando separamos “o que é de interesse do outro”, do que “é meu interesse”. Ainda não nos demos conta de que muito da violência que se configura em nossa sociedade contemporânea assenta-se sobre essa forma de pensamento e comportamento em que se separa o cuidado de si do cuidado do outro.

A reflexão sobre ética, violência e indiferença e a relação dessas questões com o nosso modo contemporâneo de subjetivação está apenas iniciada aqui. Ela segue adiante, com a ajuda do texto do psicanalista Jurandir Freire Costa, que vc pode acessar abaixo. Mas vc também pode colaborar, deixando aqui as suas idéias sobre o tema.

Segue o texto de J. F. Costa: Transcendência e Violência

Caso vc queira ler, ainda, outros textos relevantes sobre o tema, acesse também:

A Estética Foucaultiana

Freud e Winnicott – Moral e Ética

Anjos e Demônios – Parte II dezembro 2, 2007

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Adolescente

(Foto de Marlene Bergamo – 23.11.07 – Folha Imagem)

No primeiro post sobre essa triste história da adolescente presa em cela com 20 homens abordei a questão do mal e bem sob a figura de anjos e demônios. Quis mostrar na reflexão que, tanto o bem quanto o mal, fazem parte do humano. Neste sentido, o mal não está fora de nós, nem é passível de ser praticado apenas pelo outro. Todos/as nós somos capazes de praticar mal e bem. Mas cabe a nós a escolha ética de ser-fazer o bem não em função de uma suposta moral, ou por princípios religiosos, ou para manter uma certa aparência, mas em função do modo de existência que as nossas escolhas éticas implicam.

A matéria da Folha de São Paulo desse domingo, dia 02.12.07, vem comprovar a base da reflexão do post anterior. O “anjo anônimo”, como denominei aqui, o único que fez a denúncia e se preocupou com a jovem é, segundo a reportagem abaixo, um dos que estiveram presos na cela com a adolescente!

Segue a reportagem da Folha, na íntegra – http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0212200729.htm

Denúncia de abuso contra jovem partiu de um preso
Detento buscou certidão de nascimento para provar idade da adolescente
Depoimentos à Corregedoria confirmam que policiais, promotores e juíza sabiam da prisão de L. na mesma cela com homens

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Foi um preso, ex-companheiro de cela, que buscou provas para denunciar a prisão e os abusos sexuais contra a adolescente L., 15, que ficou encarcerada com cerca de 20 homens na cadeia de Abaetetuba (PA).
É o que mostram os depoimentos do inquérito da Corregedoria da Polícia Civil do Pará, que ilustra a sucessão de omissões, conformismos e conivências de policiais militares, quatro delegados, três carcereiros, dois promotores e uma juíza, todos de alguma forma envolvidos e que agora empurram as responsabilidades entre si.
Três carcereiros e delegado-supervisor dizem que promotores foram ao local no dia 13 de novembro, mas deixaram L. para trás. Era um mutirão para soltar presos provisórios.
Por ironia, o esforço rendeu a liberdade a “Beto”, acusado de ser o primeiro a estuprar L., mas também liberou o preso S., que decidiu ajudar a menina.
Segundo o conselheiro tutelar de Abaetetuba, José Maria Quaresma, S. o procurou no dia 14 e relatou “que a jovem estava sendo vítima de abusos e que possivelmente até policiais estivessem envolvidos” e que não conseguiu ajuda nem no fórum nem na Promotoria.
O denunciante também informou que “havia estado preso e conhecido L., a qual lhe pediu ajuda a fim de comprovar que era menor de idade”, já que nem acreditava nela.
A iniciativa de S. também rompe uma espécie de “conluio” formado entre os detidos, que admitem em seus depoimentos apenas um estupro violento, mas seguido do suposto comportamento lascivo e “oferecido” de L..
A partir da denúncia, começa um circo de contradições, com supostas fugas e documentos falsos. Autoridades tentam fugir de responsabilidades e tentam ocultar seus erros.
Agem como se a mistura de mulheres e homens na mesma cela fosse um detalhe menor, uma coisa “corriqueira”.
O carcereiro Claudionor Monteiro da Costa conta que “já presenciou a prisão de várias mulheres naquele local, fato que era de conhecimento de delegados, promotores, juízes, inclusive da juíza Clarice Maria de Andrade”, que tinha visto isso em visita ao “xadrez”.
Um dos carcereiros teria tentado alertar a juíza sobre L., mas teria ouvido dela que “já tinha dado uma chance a L. e, como havia aprontado novamente, teria que aguardar mais”. A juíza está em férias e não foi localizada pela reportagem.
Foram duas chances documentadas de reverter a situação de L. O delegado-supervisor Fernando da Cunha solicitou à juíza Clarice a transferência no dia 5 de novembro, mas não houve resposta.
Depois disso, um representante do Centro de Reeducação Feminino, único presídio para mulheres do Estado, em Ananindeua, teria contatado L., segundo o depoimento dela, mas não tomou providências.
O caso explodiu porque L. era menor e porque um preso se deu o trabalho de buscar a certidão de nascimento no colégio Santa Clara para sua denúncia.
No mesmo dia, os conselheiros foram à delegacia, mas não conseguiram liberá-la. No dia seguinte, foram informados da suposta fuga da menina.
L. contou outra história: “foi retirada do xadrez pelos três policiais que efetuaram sua apreensão (…) e que disseram para ela sumir”.
A menor diz que pegaria um barco para Manaus quando, três dias depois, os mesmos três a levaram de volta, com mais ameaças. Os nomes dos policiais ainda não surgiram.
A CPI e autoridades do governo federal suspeitam de ação deliberada contra a menor L., que vivia em situação de risco. Ela perdeu a virgindade com 12 anos e vivia nas ruas, alvo de exploração sexual, trabalho infantil e uso de drogas, segundo autoridades federais.
Outros dois delegados, Celso Iran Viana e Danielle Bentes da Silva, responsáveis por outros registros contra L. como maior de idade, tentaram outra estratégia. No dia 20 de novembro, buscaram o pai e o tio de L. de carro e os levaram à Igreja Nossa Sra. da Conceição.
Segundo eles, para retirar uma certidão que mostraria que L. seria maior de idade. Segundo o pai, que é analfabeto, ele queriam intimidá-lo e tentar reverter as acusações. Afirma que foi chamado de “corno” e ameaçado de prisão.

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Anjos e Demônios – O caso da menina presa em cela com 20 homens: salva da barbárie por um anjo anônimo.

Os olhares do Cuidado: Dimensões da integralidade em saúde.

Religiosidade, AIDS e a Noção de Cuidado novembro 30, 2007

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DIA 01 DE DEZEMBRO É O DIA MUNDIAL DA LUTA CONTRA A AIDS

 

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(Imagem retirada do site: http://balloon.wordpress.com/2006/12/01/worldaidsday/)

 

A Banda Britânica Queen (grupo nomeado embaixador oficial da campanha global de Nelson Mandela contra a AIDS) lançará neste sábado, dia 01 de dezembro, uma música que poderá ser baixada gratuitamente na internet, como parte da campanha pelo Dia Mundial da luta contra a AIDS. A Folha online comenta que “a canção ‘Say It’s Not True’ foi escrita pelo baterista Roger Taylor em 2003 e inclui no vocal o cantor do grupo Free, Paul Rodgers.

 

Segundo a Folha, o baterista Roger Taylor declarou:

 

Ao disponibilizar esta canção para ser baixada gratuitamente pela internet esperamos ajudar Nelson Mandela em sua campanha, que envia a mensagem de que ninguém está livre da infecção”.

Mandela, por sua vez, faz-nos um alerta sobre a responsabilidade de todos nós frente a essa questão.

 

Temos que conhecer o tema, proteger-nos e proteger aqueles que amamos. Está em nossas mãos deter esse flagelo”.

 

 

O engajamento da banda na campanha mundial contra a AIDS e a fala de Mandela nos remete à noção winnicottiana de cuidado. A noção de cuidado em Winnicott – como eu a compreendo – diz respeito ao cuidado de si em simultaneidade ao cuidado do outro. A luta contra a AIDS – em termos de prevenção – passa, obviamente, também, por essa postura de cuidado de si e do outro.

 

Mas há milhares de pessoas no mundo já infectadas pelo HIV. Elas também necessitam de cuidado. Nesse sentido, vale a pena lembrar o alerta de Pargament aos profissionais da saúde, sobre a importância de identificar no “enfrentamento religioso” as potencialidades de suporte ou de prejuízo. Faria e Seidl apresentam uma importante reflexão sobre o tema do enfrentamento religioso em pessoas portadoras do vírus HIV.

Sigamos refletindo sobre o assunto a partir do apoio dos textos abaixo:

 

Faria e Seidl – Religiosidade, enfrentamento e bem-estar subjetivo em pessoas vivendo com HIV-AIDS

 

Acesse, também: Fatores de proteção relacionados à promoção da resiliência em pessoas que vivem com HIV/AIDS

 

A canção “Say it’s not true”, da Banda Queen, estará disponível para downloads a partir do dia 01 de dezembro, o Dia Mundial da Campanha, nos seguintes endereços:

www.queenonline.com

http://www.46664.com/index.php

http://www.queenpluspaulrodgers.com/

http://www.paulrodgers.com/

Sobre a noção de cuidado, veja também os posts:

Os olhares do cuidado: dimensões da integralidade em saúde

Do sentimento de culpa à noção de Concern 

Anjos e Demônios – o caso  da menina presa em cela com 20 homens: salva da barbárie por um anjo anônimo

Anjos e Demônios – o caso da menina presa em cela com 20 homens: salva da barbárie por um anjo anônimo novembro 27, 2007

Posted by psicologiadareligiao in ética, cuidado, Winnicott.
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Adolescente presa

(Foto de Marlene Bergamo – extraída da Folha de São Paulo – 25.11.07)

O título do post é para provocar a nossa reflexão acerca de anjos, demônios e a prática do cuidado como capacidade ética

Sim! Eles estão em toda parte! Anjos e demônios andam por aí – “entre” (?) nós…

O caso da jovem adolescente, presa numa cela com 2o homens, tem sido amplamente divulgado nos últimos dias, tanto pela mídia nacional como internacional. Trata-se de uma situação que choca as pessoas com um mínimo de sensibilidade. Os jornais dão conta de que a prisão da menina de 15 anos ocorreu em razão de uma “acusação de furto”, ou “tentativa de furto”, como diz a Folha de São Paulo. Obviamente, a prisão da adolescente não pode ser compreendida como “medida legal” em relação ao suposto delito. Causa mal-estar citar as razões óbvias pelas “(des)medidas” tomadas por pessoas que ocupam posição de poder e têm a função de realizar a segurança da população. O argumento do desconhecimento da idade exata da garota não justifica a contundente falta de humanidade que o caso expõe. Foi uma barbárie! Um detalhe que causa surpresa: a prisão foi ordenada por uma delegada, uma mulher! E o que é ainda pior: a garota foi mantida nessa condição de violência e tortura por quase um mês com conhecimento de quase toda a cidade.

A pergunta, pois, que surge espontaneamente é: “Como uma coisa dessas pôde acontecer?” “Por quê ninguém denunciou?”

A resposta é terrível. Na reportagem de Laura Capriglione e Marlene Bergamo, a tia de um dos presos transferidos responde que a razão do silêncio foi “medo de morrer”. E justifica:

“Se a delegada põe uma menina na cela com os homens, e a juíza mantém ela lá, quem sou eu pra denunciar. Aliás, denunciar para quem?”

 

Esse acontecimento trágico só recebeu (ou está recebendo) um outro destino porque “no dia 14, finalmente, o Conselho Tutelar de Abaetetuba recebeu uma denúncia. Anônima.”

Um anjo anônimo salvou a garota da barbárie a que estava submetida perpetrada e patrocinada pela instituição do Estado.

Não pretendo fazer desse post simplesmente um desabafo indignado, apesar do sentimento de profunda tristeza e horror que esse fato nos provoca. Penso que se faz relevante pensar, num momento como esse, a respeito da carência de anjos na sociedade contemporânea. De demônios já estamos “cheios” – por dentro, por fora, andando entre nós e dentro de nós. É mais simples acusar as pessoas diretamente envolvidas nessa barbárie e nos indignarmos com o fato, apaziguados pelo pensamento de que tais atrocidades foram cometidas não por nós, mas pelos outros (ou “pelas outras”).

É bem possível que outras pessoas na cidade tenham se indignado pela situação. Provavelmente até reagiram: expressaram medo, raiva, piedade, torpor, etc. Mas só uma pessoa foi capaz de agir sobre a situação, não simplesmente reagir a ela. Um anjo? Caído do céu para salvar a garota? Alguns diriam que sim! Talvez pelo sentimento de que uma atitude como essa: ativa, libertadora, que se move sobre a compreensão de uma auto-responsabilização pela condição desumanizada vivida pelo outro, é tão rara que alguém com tais traços só pode ser “sobrenatural”- um anjo! Sobre a mesma lógica se “demoniza” os perpetradores e as perpetradoras das barbáries – tais pessoas seriam tomadas como demônios, não poderiam ser consideradas como pessoas comuns, humanas: como você e eu!

Entretanto, acredito que necessitamos mais do que indignação. Mais do que espaço para expressar nosso espanto sobre as barbáries que nós – seres humanos – somos capazes de realizar. Necessitamos pensar, inventar alternativas de vida construídas a partir de uma visão que ultrapasse análises maniqueístas tais como anjo/demônio, mal/bem, etc .

Talvez pudésemos ser, de algum modo enriquecidos mesmo em meio a essa tragédia, se pudéssemos nos juntar na construção de algumas medidas concretas e ativas face a tudo isso. E a pergunta, então, insiste aqui, outra vez:

Como desenvolver um modo de existência que expresse uma capacidade ética – uma ética que se baseia no cuidado? Cuidado, entendido aqui, como expressao da “capacidade de se preocupar”? Winnicott usa a expressão “capacidade” para se referir a presença ou ausência de condições para se lidar com o “entorno” onde desenvolvemos/compomos a nossa subjetividade. Para ele, a noção de “capacidade” implica construção, interação, criação que se faz a partir dos/nos encontros com o outro. Neste sentido, nada é “natural”, ou dado à priori. Trata-se de potência que se desenvolve, que se constrói. Cria-se, desenvolve-se certas capacidades: “capacidade de estar só”, “capacidade de sentir culpa”, “capacidade de acreditar”, e também, a “capacidade de se preocupar”. Esta última tem a ver com o cuidado de si que se constrói em simultaneidade ao cuidado com o outro. Exatamente o oposto de uma atitude de olhar para o próprio umbigo e preocupar-se apenas com o que diz respeito, ou o que cabe nas fronteiras do próprio eu. A capacidade de se preocupar considera o si em simultaneidade com o outro. O eu não se faz criativo quando desvinculado do outro.

Penso que podemos ser criativos nesse momento se buscarmos desenvolver a nossa capacidade de nos preocuparconosco e com o outro em simultaneidade . Nesse sentido, quais ações poderíamos criar para que, de fato, essa capacidade se apresente como potencial a ser desenvolvido numa dimensão tanto macropolítica quanto micropolítica?

Sinta-se à vontade para deixar aqui a sua sugestão e colaborar na construção de algo que possamos fazer em comum com vistas a desenvolver, coletiva e pessoalmente, a “capacidade de nos preocupar”.

Para acessar a reportagem da Folha de São Paulo clique aqui: Moradores sabiam que menina estava em cela de homens no Pará.

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A prática do cuidado e a função da religiosidade no enfrentamento da doença novembro 23, 2007

Posted by psicologiadareligiao in Aconselhamento Pastoral, cuidado, Espiritualidade, Saúde e Religiosidade, Sagrado.
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O Professor Geraldo Paiva discute, num texto publicado em março/2007, pela Rever, o conceito de cura como cuidado e como recuperação da doença. Ele levanta, também, algumas questões acerca da competência da Psicologia para se pronunciar quanto à eficácia ou não do religioso na experiência de enfrentamento (coping) . O prof. Geraldo observa que

as pessoas cujo enfrentamento “religioso” tem a natureza de um enfrentamento “sagrado” mobilizam cognições, motivações, pulsões que dispõem uma nova configuração da existência e podem atingir, mediante o sistema imunológico, a faixa do biológico no homem.

Paiva aborda, ainda, o papel do/a psicólogo/a, do/a teólogo/a e do/a agente pastoral a partir de uma prática que saiba distinguir, em termos teóricos e práticos, as dimensões do religioso, do sagrado e do profano.

O texto completo pode ser acessado aqui: Religião, enfrentamento e cura: perspectivas psicológicas

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Os olhares do Cuidado: dimensões da integralidade em saúde outubro 11, 2007

Posted by psicologiadareligiao in Aconselhamento Pastoral, cuidado, Espiritualidade, Saúde e Religiosidade.
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Como abordar a questão da integralidade em saúde se deixarmos de fora a dimensão da espiritualidade/religiosidade, esse difícil tema que insiste em se fazer presente até mesmo quando parece ausente? Para pensar sobre a questão da espiritualidade e sua relação com a prática do cuidado e da busca da integralidade em saúde, 3 “dispositivos” serão aqui evocados. O que poderá emergir como possíveis “conclusões” ou mesmo outras questões para se continuar pensando a partir dos dispositivos apresentados fica em aberto, à espera, talvez, daqueles/as com coragem para deixar aqui suas contribuições.

Dispositivo 1 – fábula: “Cura” – O sentido de cura e cuidado

A palavra “cura” vem do latim – curare – significa cuidado, atenção, “preocupação com”. Não é por acaso que o título da Fábula de Higino, também contada por Goethe, no segundo ato de Fausto, traz o título “Cura”. Em sua obra Ser e Tempo, Heidegger utiliza-a como idéia central para desenvolver a reflexão sobre cuidado como um “modo de ser do humano”. O cuidado pré-figura a existência humana, perpassa-a e a constitui, sendo então, condição da continuidade da existência. Vamos à lenda:

Quando um dia o Cuidado atravessou um rio, viu ele terra em forma de barro: meditando, tomou parte dela e começou a dar-lhe forma. Enquanto medita sobre o que havia criado, aproximou-se Júpiter. O Cuidado lhe pede que dê espírito a essa figura esculpida com barro. Isso Júpiter lhe concede com prazer. Quando, no entanto, o Cuidado quis dar seu nome à sua figura, Júpiter o proibiu e exigiu que lhe fosse dado o seu nome. Enquanto o Cuidado e Júpiter discutiam sobre os nomes, levantou-se também a Terra e desejou que à figura fosse dado o seu nome já que ela lhe tinha oferecido uma parte do seu corpo. Os conflitantes tomaram Saturno para juíz. Saturno pronunciou-lhes a seguinte sentença, aparentemente justa: Tu Júpiter, porque deste o espírito, receberás na sua morte o espírito; tu Terra porque lhe presenteaste o corpo, receberás o corpo. Mas, porque o Cuidado por primeiro formou essa criatura, , irá o Cuidado possuí-la enquanto ela viver. Como, porém, há discordância sobre o nome, irá chamar-se homo (homem), já que é feito de húmus (terra) (Heidegger: 1988, p. 263-4).

Dispositivo 2 – vídeo – A Integralidade da assistência em saúde

(vídeo produzido pelo BERRO – Laboratório de Artes Cênicas da UFPI disponível em: http://www.abepsi.org.br/abep/videos.aspx#)

“Entre desejo e realidade” (como se pode ler nas inscrições iniciais do vídeo) está a cegueira e o não-olhar o outro como impedimento para a promoção efetiva da cura/cuidado. O cuidado supõe olhar o outro em sua singularidade. Tem como condição ouvir o desejo do outro ainda que o mesmo pareça óbvio àquele que ocupa o lugar de cuidador. O cuidado não é algo que se dá a outro, mas que se pratica com o outro, implica em circulação de afetos, em algo que se cria em comum. Quanto nossa escuta e nosso olhar estão abertos em nossa prática de cuidado? Quanto permitimos que todo o nosso corpo, olhos, ouvidos, coração e mente sejam afetados e ativados nos encontros de afeto com o outro?

Dispositivo 3 – narrativas da vida de Jesus – O olhar o outro, a escuta do desejo e a valorização das crenças pessoais

Duas narrativas, recortadas do Segundo Testamento, contam a história de pessoas cegas buscando pela cura. A primeira é de um morador da cidade de Jericó – lugar onde acontece o encontro desse cego com Jesus. Ao perceber a agitação da cidade em razão da visita do Filho de Deus àquele lugar, aproveita a oportunidade e clama por misericórdia. As pessoas ordenam que ele se silencie, mas ele grita cada vez mais alto. Jesus vê que ele é cego, mas a despeito disso, evoca seu desejo de cura na pergunta de algo “aparentemente” óbvio: “Que queres que eu te faça?” (Marcos 10: 46-52). Jesus não se colocou no lugar de de alguém que “sabe” de antemão o desejo do outro, ainda que pudesse supô-lo. Ele pergunta pelo desejo: “o que você quer?”. O resultado desse encontro é descrito na frase: “Vai, a tua fé te salvou”. A segunda narrativa conta a história de dois cegos que pedem a cura e Jesus lhes pergunta: “vocês crêem que eu posso fazer isso?” À resposta afirmativa de ambos, Jesus diz: “Seja feito segundo a fé de vocês!”(Mateus 9: 27-28). Em ambas as narrativas, o posicionamento de Jesus frente aos que buscam a cura não é de alguém que sabe de antemão o desejo do outro. Pelo contrário, sua atitude revela que parece-lhe parte integrante do processo de cura, a ativação de um elemento que não depende do “curador”, mas que tem a ver com a implicação das partes envolvidas num processo de criação – em conjunto – de uma outra realidade. No caso dos cegos, esse elemento era a fé, a crença, os valores que possuíam – era a subjetividade de cada um que era convocada no processo de cura. É possível depreender dessas narrativas que a cura/cuidado é uma via de duas mãos, é algo que se constrói em comum, sobre uma base mínima de identificação onde as condições de possibilidade de emergência de uma outra configuração depende do olhar do outro e de uma escuta que agencia o desejo no processo de cura e de afirmação mesma da vida.

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Do sentimento de culpa à noção de “concern” – contribuições winnicottianas outubro 1, 2007

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A palavra “concern”, trazida para o campo da psicologia, por Winnicott, é de difícil tradução para o português. Em razão disto, tradutores desse autor preferem manter a palavra no original em inglês. Em português, concern traz a idéia de “preocupação”, “cuidado”. Winnicott é conhecido pelos seus “paradoxos insolúveis”. Sua utilização da palavra concern guarda um desses paradoxos sem solução, pois, “cuidado” tem o sentido ambíguo de “desvelo”, “atenção”, e ao mesmo tempo “cautela”, “inquietação”, “preocupação”.

Em Winnicott, a noção de concern aparece como alternativa à idéia de culpa (bastante estudada por Freud, com respeito à formação do superego e à resolução do Complexo de Édipo). Em seu estudo sobre “a psicanálise do sentimento de culpa”, Winnicott observa que a idéia de “valor” no indivíduo está intimamente ligada à capacidade para o sentimento de culpa. Para ele, o sentimento de culpa não se trata de algo “natural”, pelo contrário, desenvolve-se e estabelece-se como uma capacidade para experimentar o mesmo. Em outras palavras, o sentimento de culpa, de acordo com Winnicott, está ligado ao desenvolvimento de um senso moral, ou, melhor dizendo, ao desenvolvimento de uma ética, pois, cuidado e capacidade de se preocupar não diz respeito a um comportamento desvinculado da relação com o outro, pelo contrário, a pressupõe.

Assim, a idéia winnicottiana de “cuidado” parece mais ética (valores flexíveis, construídos por opção do indivíduo em função do estilo de existência que tais escolhas implicam, como nos lembra Foucault) e menos moral (valores rígidos, tomados como certo/errado a priori, a partir de modelos já dados).

Qual a importância da reflexão acerca do sentimento de culpa e da noção winnicottiana de concern para a Psicologia da Religião? A pergunta não poderá ser respondida plenamente aqui, agora. Trata-se de um questionamento que merece maior aprofundamento futuro. Por ora, cabe pontuar apenas que Winnicott contribui com uma importante ferramenta conceitual a ser utilizada no estudo de certas formas de religiosidade que emergem na contemporaneidade. Além disso, a idéia de concern pode ajudar em muito aqueles que trabalham com o Aconselhamento Pastoral/Espiritual, pois aponta a possibilidade de uma prática de aconselhamento que tenha como baliza a ética do cuidado, e não a culpabilização moral calcada em a-priori religiosos. Assim, para começar a pensar sobre o tema, vale a pena estudar com atenção, dois textos: o de Jurandir Freire Costa: “Da dívida como culpa ao cuidado com o outro: as perspectivas de Nietzsche e Winnicott”, e o de Nahman Armoni: “Poderiam Freud e Winnicott nos ajudar a compreender as transformações morais e éticas de nossos tempos?”

Para ter acesso ao texto de J. F. Costa, clique no link abaixo.

da-divida-como-culpa-ao-cuidado-com-o-outro.doc

Além destes dois textos, vale a pena ir direto ao texto de Winnicott em:

WINNICOTT, D. W. Psicanálise do sentimento de culpa. In: WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.

A prevalência de Transtornos Mentais entre ministros religiosos – uma pesquisa na interface Psiquiatria e Religião setembro 11, 2007

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Dez anos atrás, o Prof. Dr. Francisco Lotufo Neto apresentou uma tese de pós-doutorado (Livre-docência para a Faculdade de Medicina da USP) onde investiga a prevalência dos transtornos mentais entre ministros religiosos. Uma das conclusões do prof. Lotufo Neto foi a de que

A religião, uma variável que influencia a saúde mental, está sendo negligenciada pela psiquiatria nos seus estudos e programas de tratamento e prevenção.

Observação semelhante foi colocada por um dos Grupos de Trabalho no VI Simpósio de Psicologia e Senso Religioso – 2007, apontando que a negligência do estudo da Religião/religiosidade se faz sentir por sua ausência na grade curricular dos Cursos de Graduação em Psicologia. É verdade que poucos são os cursos de Psicologia que oferecem a disciplina Psicologia da Religião em seu currículo, nem mesmo como disciplina optativa. Está aqui um dado que pede uma reflexão consistente a respeito.

Segue o resumo do trabalho do Dr. Francisco Lotufo Neto, que também pode ser acessado no site do CPPC.

Psiquiatria e Religião: A prevalência de Transtornos Mentais entre Ministros Religiosos

O campo é vasto e foi necessário delimitá-lo. Optou-se pelos estudos psiquiátricos a respeito da religião que tiveram a preocupação de testar uma hipótese, de estudar a relação entre transtornos mentais e religião de forma empírica. Por isso, deixou-se de lado a imensa quantidade de literatura muito rica, mas contendo apenas reflexões e opiniões a respeito. Este trabalho divide-se em duas partes. Na primeira deu-se uma introdução sobre os principais conceitos acerca de religião, espiritualidade e fé, além de definir os diferentes tipos do uso da expressão saúde mental. A seguir examinou-se as características da religião que pode ser prejudicial à saúde mental. Apresentou-se os diferentes mecanismos pelos quais a religião pode influenciar a saúde e detalhou-se o que os trabalhos mostram sobre a relação entre religião, saúde física, bem-estar e os diferentes transtornos mentais. Os problemas metodológicos do estudo da religião na psiquiatria foram abordados e as principais recomendações encontradas na literatura detalhadas. Na Segunda parte, resumiu-se a literatura sobre transtornos mentais em ministros religiosos, ficando evidente que o tema foi muito pouco estudado. Os trabalhos são antigos, de muito antes do início de cuidados como critérios e instrumentos diagnósticos. Examinou-se também a literatura sobre os fatores de estresse na vida do sacerdote.

Métodos
Para investigar a prevalência de transtornos mentais em ministros religiosos cristãos, não católicos, moradores da cidade de São Paulo, 750 questionários contendo o “Self-Report Psychiatric Screening Questionnaire (SRQ-20)” e o “Inventário de Vida Religiosa” foram enviados pelo correio. Das 207 respostas, quarenta foram sorteadas e convidadas para uma entrevista com o “Schedule for Clinical Assessment in Neuropsychiatry” e uma entrevista aberta visando responder à Escala para Gravidade de Estressores (eixo IV do DSM-III-R).

Resultados
A prevalência de transtornos mentais no mês que precedeu a entrevista foi de 12,5%, e 47% receberam um diagnóstico quando a vida toda foi considerada. Os principais diagnósticos foram Transtornos Depressivos (16,4%), Transtornos do Sono (12,9%) e Transtornos Ansiosos (9,4%). Religiosidade do tipo intrínseco (onde a religião constitui um fim em si mesma, em que a pessoa “vive a sua fé”) foi associada com saúde mental. Problemas financeiros, problemas com outros pastores, conflitos com os líderes leigos da igreja, dificuldades conjugais, problemas doutrinários na igreja e sobrecarga de trabalho foram os fatores de estresse identificados mais importantes.

Conclusões
o A religião, uma variável que influencia a saúde mental, está sendo negligenciada pela psiquiatria nos seus estudos e programas de tratamento e prevenção.
o É necessário que o psiquiatra esteja familiarizado com a literatura sobre religião e conheça a religiosidade de sua clientela, para saber como utilizá-la clinicamente.
o Nas pesquisas, é necessário uma avaliação multidimensional, que a respeite em sua complexidade.
o Orientação religiosa intrínseca parece ser benéfica à saúde mental.
o Ministros religiosos cristãos não-católicos, residentes em São Paulo, têm uma prevalência aumentada de transtornos afetivos e ansiosos, e menor de abuso e dependência de álcool e drogas.
Tese de Pós-Doutorado (Livre Docência para a Faculdade de Medicina da USP), apresentada em 1997.

Para obter acesso ao estudo completo entre em contato por e-mail: franciscolotufo@uol.com.br

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